França reconhece “responsabilidade” na guerra colonial nos Camarões

O Presidente Emmanuel Macron reconheceu que a França travou “uma guerra” nos Camarões contra os movimentos de libertação antes e depois da independência em 1960. Numa carta enviada ao seu homólogo camaronês, Paul Biya, Macron admitiu que lhe cabe “assumir hoje o papel e a responsabilidade de França nos acontecimentos”. Este reconhecimento oficial surge na sequência de um relatório de uma comissão de historiadores, apresentado em Janeiro ao Presidente francês e que, segundo a carta assinada por Emmanuel Macron, “mostrou claramente que ocorreu uma guerra nos Camarões, durante a qual as autoridades coloniais e o exército francês exerceram violência repressiva de vários tipos”. Por isso, Macron admitiu que lhe cabe “assumir hoje o papel e a responsabilidade de França nos acontecimentos”, ou seja, a guerra levada a cabo pelo exército francês contra os movimentos independentistas e de oposição nos Camarões entre  1945 e 1971. O Presidente francês é explícito na carta ao acrescentar que “a guerra continuou para além de 1960 com o apoio de França às ações levadas a cabo pelas autoridades independentes camaronesas”. Emmanuel Macron não abordou a questão das reparações, como pedem muitos antigos combatentes camaroneses. O relatório da comissão, presidida pela historiadora Karine Ramondy, analisa, também, a passagem por parte das autoridades coloniais francesas da repressão para uma “guerra” que teria feito “dezenas de milhares de vítimas” e que ocorreu no sul e oeste do país entre 1956 e 1961. Por outro lado, sublinha que “a independência formal [dos Camarões em Janeiro de 1960] não constitui de forma alguma uma ruptura clara com o período colonial“. Lembra, também, que Ahmadou Ahidjo, primeiro-ministro e depois Presidente em 1960, estabeleceu “um regime autocrático e autoritário com o apoio das autoridades francesas, representadas por conselheiros e administradores, que deram carta branca às medidas repressivas adoptadas”, segundo os historiadores. De notar que o atual Presidente Paul Biya foi um colaborador próximo de Ahmadou Ahidjo na década de 1960, até se tornar primeiro-ministro em 1975 e Presidente em 1982. Hoje, aos 92 anos, vai concorrer a um oitavo mandato nas presidenciais de 12 de Outubro e o Conselho Constitucional rejeitou a candidatura do seu principal adversário, Maurice Kamto. O reconhecimento da responsabilidade de França na guerra nos Camarões é mais um passo na política memorial do Presidente Macron relativamente a África, após documentos semelhantes sobre o Ruanda e a Argélia, outras páginas sombrias da história colonial francesa em África.

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